28 novembro, 2007

Inauguração do Chafariz do Largo da Boa Vontade

Aspectos da inauguração do Chafariz do Largo da Boa Vontade e da festa que se seguiu.
Conforme está escrito na placa que assinalou esta inauguração:
Esta obra foi levada a efeito com o carinho e
a boa vontade do povo deste lugar e
com o valioso auxílio da Câmara Municipal deste concelho.
Foi iniciada em 5.10.1947 e inaugurada a 1.1.1948.
[Ver também a entrada: A ÁGUA da BOA VONTADE]

Adelino Gregório, Augusto S. Catarino (mestre Augusto), Luís Gonçalves (Luís Pintor), Dário Cannas (Presidente da C .M. Loures) e Joaquim Maria de Mira

O momento em que o Presidente da Câmara, acciona a alavanca e aí temos a água.
Vêm-se ainda: Joaquim M. Mira, Policarpo Paisana (Arboricultora) e uns mirones

Festa (copo de água) da inauguração do Chafariz (ou Fonte) no Largo da Boa Vontade
Adelino Gregório (no uso da palavra), Caetano Castelo, Luís Gonçalves (Luís Pintor), Mário Martins (Mestre dos “Rouxinóis”), Jorge Boturão, Serafim Rodrigues, Adérito Duarte, Domingos Chitas (?), Júlio Silvério, António Castelo, Dário Cannas (Presidente da C. M. Loures), ( ? ), Fernando Ferreira, Joaquim M. Mira, ( ? )

Fotos cedidas e legendas de Levier Duarte Catarino

Transportes

Peregrinação a Fátima que juntou cerca de 100 pessoas, em 2 autocarros.
No entanto não era com estes autocarros que a Arboricultora fazia a carreira de Montemor para Lisboa. Esses eram mais velhos.
Curiosamente o poste telefónico que, nessa altura só tinha duas linhas, ou seja um único telefone.

“Buick” da Família Nogueira (Quinta da Fonte), aqui partilhado por alguns jovens de Montemor com o caseiro da Quinta, Ti’ Manuel Xavier

Fotos cedidas e legendas de Levier Duarte Catarino

Camioneta de carga de Adelino Gregório à porta de sua casa

Foto cedida por Encarnação Gregório Duarte

27 novembro, 2007

Torneio de Futebol

Club Desportivo de Montemor (camisolas amarelas) e Desportivo da Ponte de Frielas (camisolas azuis com gola branca), num Torneio organizado pelo Club Sportivo de Loures (Campo Areeira) - Loures

[fotografia cedida por Levier Duarte Catarino]

Os Juniores do Clube Desportivo de Montemor

Juniores do Club Desportivo de Montemor
Joaquim André, António Pedroso (?), Augusto Duarte, Afonso (?) (Ponte de Lousa), Joaquim Prior, Manuel Xavier e Armando Viana (Bandeirinha)
Odílio Castelo, Horácio Simões, Desconhecido, Francisco Antunes, Avelino Baptista (?)
[fotografia cedida por Levier Duarte Catarino]

Futebol

Fotos de várias equipas de Futebol do Clube Desportivo de Montemor, que alinhava com camisolas amarelas e calções pretos.

Equipa de futebol do Clube Desportivo de Montemor - 1946 (?)
Da Esquerda para a Direita:
(de pé) João Duarte, Joaquim Pedro, Afonso, Teodoro Silvério (Tê), Júlio Silvério, Abel Prior, (de joelhos) Fernando Ferreira, Júlio S. Costa (Julinho), Vítor Silvério, Armando Viana (?) e Adelino Gregório


Clube Desportivo de Montemor - 1946
Teodoro Silvério (Tê), Benedito Viana, Júlio Silvério, José Lopes (? Lisboa), Abel Prior, João Duarte
Fernando Ferreira, Levier Catarino, Vítor Silvério, José Duarte (José Gralha), Júlio S. Costa (Julinho)

Clube Desportivo de Montemor - 1947
João Duarte (João Barreira), Luis Afonso, Adérito Duarte (Fininho), Fernando Dias, Joaquim Pedro, Benedito Viana
Armando Viana, José Duarte (José Gralha), Levier Catarino, Joaquim Prior, Fernando Ferreira

Clube Desportivo de Montemor
Adérito Duarte, Benedito Viana, Armindo Sapateiro (Caneças), João Duarte,
Adelino Gregório, Armando Viana
(ainda não foi possível reconhecer outros jogadores)


Clube Desportivo de Montemor
Francisco (Chico Preto – Odivelas), Júlio S. Costa (Julinho), José Lopes (Lisboa), Abel Prior, Armindo (Sapateiro - Caneças)
Humberto (Lisboa), Adérito Duarte (Fininho), Armando Viana (e 3 jogadores ainda não identificados)
[fotos cedidas por Levier Duarte Catarino]

20 novembro, 2007

Os Rouxinóis no Carnaval

Os Rouxinóis actuando num Carnaval em Montemor
[foto cedida por Levier Duarte Catarino]

A Escola Primária

Os alunos da Escola Primária de Montemor, do ano de 1940

Os alunos da Escola Primária de Montemor, do ano de 1970
[fotos cedidas por Levier Duarte Catarino]

19 novembro, 2007

O LAZER

Nos anos ’30 a TV ainda não tinha chegado ao nosso País. Por esta altura em Montemor, nem sequer havia quem tivesse rádio. Havia porem uma “grafonola” no estabelecimento comercial do Ti’ Jerónimo, que também tinha Barbearia.
Dava-se corda à grafonola, o disco girava e, através de um sistema com uma agulha, ouvia-se então (de forme mais ou menos rouca), a canção da “Vaca Amarela” e o “Fado da Maria Alice”. Era uma festa ...
Mais tarde, mesmo não havendo electricidade, apareceu a Rádio.
Foi na Loja do Ti’ Rodrigues (Rodrigo Gregório) que tinha um estabelecimento comercial de Mercearia e Padaria.
Mandou instalar um pequeno gerador eólico e quando havia vento, podia acender-se uma lâmpada eléctrica e havia música ou relatos de futebol.
Havia um terceiro estabelecimento comercial da Ti’ Rosa do Júlio (Rosa de Jesus) com Mercearia, Vinhos e Casa de Pasto (junto havia a barbearia do filho “mestre Augusto), mas não tinham nada disso.
Ali a animação era outra e permanente; havia sempre um ou mais cochichos que cantavam muito e bem.

Ti' Rosa do Júlio

[foto cedida por Levier Duarte Catarino]

Junto ao estabelecimento comercial do Ti’ Rodrigues havia um espaço coberto (debaixo da Escola Velha) onde se podia jogar o chinquilho.
O jogo consistia em arremessar uma malha (disco de ferro) que devia atingir um palito (peça de madeira de palmo e meio de altura) colocado num tabuleiro de madeira situado a uns 20 metros de distância (chamado cama). Se a malha acertava no palito o jogador ganhava dois pontos.
O jogador que no fim de cada jogada colocasse a sua malha mais perto do “prego” (ponto onde se instalava o palito), ganhava um ponto. Este jogo só funcionava nas tardes de Domingo ou Feriados e era normalmente feito por equipas de 2, 4 ou mais jogadores.

Havia também a caça. Entre os caçadores havia o grupo dos “fortes” e outro dos “fracos”. È evidente que os caçadores “fortes” eram assim chamados por que apanhavam normalmente mais caça.
Os grupos tinham “um ou dois espingardas” e uns cinco ou mais batedores. Todos tinham muitos cães. Os cães dos “fortes” também eram os melhores, claro.
Os caçadores mais famosos eram o Ti’ Domingos Viana (Moca) e o irmão Fernando Viana (Pires) e mais tarde o filho Francisco Viana (Moquita). Chegaram a apanhar uma raposa. Sobre coelhos nem se fala…

Nas tardes de Domingo, também se jogava o futebol. A miudagem jogava a bola na “Eira Velha”. Quando o Engº Carlos Santos estava disponível, jogava-se com a bola de couro que ele próprio emprestava.
Às vezes dava uns pontapés. Fora disso, jogava-se com bola de trapos ou de borracha. Os homens jogavam no campo e tinham equipamento próprio: camisolas amarelas e pretas, às riscas.
Com alguns apoios, quando a miudagem cresce, é fundado o Grupo Desportivo de Montemor (camisolas amarelas e calções pretos).
Mais tarde, é na sede deste Grupo Desportivo, que é instalado o primeiro Televisor em Montemor (taxa de 1$00 por noite).
Quando se funde com a Sociedade Recreativa de Beneficência Montemorense tinha, além do futebol, ténis de mesa e outras actividades.
[foto cedida por Levier Duarte Catarino]

No Carnaval apareciam as cegadas que eram muito apreciadas.
Tratava-se de grupos de teatro popular que representava na rua (às vezes na Sociedade) as suas peças com cariz cómico como era próprio da época, mas também outras com fundo dramático. Estas vinham normalmente da gente do Zambujal. Do Barro de Loures, vinham sempre cegadas cómicas.


Um conjunto de jovens mascaradas no Carnaval
[foto cedida por Encarnação Gregório Duarte]

Na Sociedade havia nesse tempo o bailarico saloio, por vezes com cantigas à desgarrada.
Os “caraceiros” apareciam logo no Domingo “magro”, altura em que se começava a mandar as pulhas…

[foto cedida por Levier Duarte Catarino]

O que eram as pulhas ? Eram ditos (ou “bocas”) que se apregoavam a partir do “Alto do Nico” afim de poderem ser ouvidas no Lugar, na Fonte ou mesmo no Rio da Lage.
Uma delas era assim:
Cá vai uma pulha …
P’ra a gente do Lugar
Vai carregada de merda
P’ra quem a apanhar !
Findo o Entrudo, ainda havia folgazões que na Quarta-Feira de Cinzas iam fazer o habitual “Enterro do Carnaval”. Tratava-se de uma praxe em que só participavam homens (os rapazes metiam-se à socapa), representando um deles a figura da “Viúva do Carnaval” chorando a sua morte.
Diziam-se algumas obscenidades e no fim queimava-se o “morto”.
O Jazz também colaborava na festa; havia sempre filhós (filhóses como se dizia) e eram muito boas.

Levier Duarte Catarino

15 novembro, 2007

Montemor e a Guerra Colonial: o Casão Militar

“Nenhum filho de Montemor perdeu a vida no Ultramar”, disseram várias vozes quando, no ano de 1974, a guerra colonial era dada por terminada.

No entanto, outras “guerras” houve na aldeia aquando dessa época e muitas pequenas batalhas tiveram que ser travadas para que a população, expectante “do lado de cá” para saber dos seus, pudesse continuar a sua vida e subsistisse em pleno período de contenção e racionamento em todo o Portugal.

Uma dessas pequenas batalhas foi o fenómeno social que se faria sentir por todo o território nacional: a entrada das mulheres no mercado de trabalho. Naturalmente, também em Montemor essa alteração da posição da mulher na sociedade foi visível e sentida pela população. Como a História ensina, em época de guerra e ausência daqueles que, maioritariamente do sexo masculino, são enviados para os campos de luta, ficavam aquelas que os viam partir. Daqui à entrada – voluntária ou por uma questão de necessidade – das mulheres da aldeia na vida profissional a full-time, foi só um passo.

O Casão Militar

Assim, em Montemor, uma boa parte das mulheres que desempenhavam a actividade de “domésticas” ou “donas-de-casa”, passaram a acumular a esta função uma outra: trabalhar para uma organização estatal chamada o Casão. O Casão era a instituição responsável, entre outras, pela contínua produção de fardas para os militares do exército. Esta era a actividade do Casão para a qual muitas mulheres de Montemor trabalharam.

“As mulheres tinham que ter a quarta classe para entrar”, relembra Alda Vitória, uma das trabalhadoras do Casão. “Eram indicadas pelas que já lá trabalhavam e faziam um exame que consistia na costura de uma peça de roupa. Depois, ou eram aprovadas… ou não". Testemunhos de décadas passadas num período de conturbação: “também tínhamos de fazer horas extraordinárias, quando havia mais precisão.”

O depósito de fardamento e oficinas gerais eram no Campo de Sta. Clara e a entrega das fardas costuradas, na Graça. Quantas mais peças fossem feitas, maior era o ordenado. Uma camisa era 7$50 [escudos], umas calças 18$00, e assim sucessivamente. A entrega era feita semana a semana. Para além disso, faziam-se peditórios para a angariação de dinheiro para os militares irem em melhores condições para o Ultramar.

Quando a guerra acabou, as mulheres que estavam ligadas ao Casão foram integradas na função pública. As oficinas fecharam mas a maior parte manteve-se na vida activa exercendo outras funções em quartéis, no Colégio Militar, no Instituto de Odivelas ou no Hospital Militar. Esta alteração justificou seguramente uma evolução do perfil social da aldeia e promoveu a diversidade hoje encontrada na sua população, para o que a proximidade geográfica de Lisboa também contribuiu.

Cláudia Silvério Gonçalves

14 novembro, 2007

A CAPELA E A CATEQUESE

Em Montemor nos anos 50 e 60 do século passado, Jorge de Oliveira Boturão, morador no Lumiar, foi o grande impulsionador da actividade pastoral na Capela de Nossa Senhora da Saúde. [ver também o texto sobre os "Veraneantes"]
Jorge de Oliveira Boturão com um conjunto de catequistas

Após uma grave doença deste senhor, ele prometeu a Nossa Senhora da Saúde, ajudar no que estivesse ao seu alcance, a Capela de Montemor. E não foi assim tão pouco como isso .

Começou por valorizar a Capela, mandando construir quatro salas de catequese ornamentadas requintadamente para o efeito, com quadros ainda hoje existentes, numa das salas que nos dias de hoje é a casa mortuária, fotografias, secretárias em madeira para catequistas e crianças, armários para arquivar toda a documentação referente a todos os processo doutrinais dessas crianças (os das meninas em cor-de-rosa e os dos meninos em amarelo).

Organizou “O TESOURO”, um documento entregue a todas as crianças uma vez por mês, onde durante os dias da semana descreviam as suas orações, e as suas boas acções, o que de certa maneira seria uma iniciativa preciosa para não se cometer as “ menos boas acções”. Apetrechou também a Capela com os paramentos e demais alfaias litúrgicas, que ainda hoje lá existem.

Faleceu na Quinta-feira de Paixão, no dia 7 de Abril de 1966 e foi a enterrar na Sexta-feira de Paixão.
Hoje existe em Montemor uma rua com o seu nome ...para que nunca o esqueçamos.

Luísa Gonçalves

13 novembro, 2007

TERRA PRETA

Em Montemor, a terra preta é muito produtiva e era a partir dos anos ‘20 e ‘30 do século passado além do gado, da lavoura e do comércio de leite – que era vendido numa pequeníssima instalação onde trabalhava a “Tia Isaura“ – , uma fonte de sobrevivência para muitas famílias.

Esta terra era vendida sobretudo para os jardins das Câmaras Municipais de Loures, Almada e Lisboa, para o Jardim Zoológico de Lisboa, para os jardins do restaurante “Castanheira de Moura“, ainda hoje existente na zona do Lumiar e que na altura era um dos restaurantes mais conceituados e seleccionados de Lisboa e sobretudo para alguns particulares “de alto gabarito” de Lisboa também.

A lavoura e a exploração de gado ainda hoje são praticadas por algumas famílias em Montemor.
Luísa Gonçalves

A GUERRA MUNDIAL

Pouco depois de ter começado a II Guerra Mundial (1939/45) logo surgiu muita informação sobre o conflito, já que as Embaixadas de Inglaterra e da Alemanha enviaram para diversos estabelecimentos comerciais, especialmente as barbearias uma enorme quantidade de propaganda.
Havia cartazes com fotografias da frota naval de Sua Majestade bem como painéis com as fotografias dos submarinos e aviões do Reich.

Os veraneantes mais importantes emitiam opiniões que eram ouvidas com atenção. Havia vários anglófilos mas também uns quantos germanófilos.
Logo que os Estados Unidos e o Japão entraram na guerra, passa a aparecer ainda mais propaganda. A revista “Em Guarda” (papel couché e a cores) passa a ser distribuído gratuitamente e com grande frequência.
Segundo uma determinada propaganda, tinha sido abatido uma tonelagem recorde de submarinos do inimigo. Em resposta, logo apareciam notícias contrárias afirmando tinha sido afundado um número recorde de vasos de guerra do adversário.
Num dado momento esta guerra bate mesmo à porta dos portugueses.
Uma vez que tinham sido dadas facilidades aos americanos para instalarem um aeroporto militar (Base Aérea das Lages) a meio do Atlântico (entre os Estados Unidos e o centro da Europa), foram mobilizados soldados portugueses para prestarem serviço militar no arquipélago dos Açores que assim se tornou palco desta guerra.

Partiram portanto para os Açores os jovens soldados montemorenses: Adelino Gregório, Caetano Castelo e Luís Romão (Luís Plácido), àcerca dos quais havia muito pouca informação.
Sem se dizer que era para apoio dos países em guerra, passou a haver uma grande procura de peles de coelho. Percebia-se facilmente que a Alemanha preparava uma invasão da União Soviética e precisava de se precaver para se debater ali, com o chamado “general Inverno”. Os compradores de peles apareciam com frequência e pagavam bom preço pelo produto É claro que toda a gente passou a ter criação de coelhos. Depois de abatidos os coelhos, retirava-se a pele (numa só peça) que, depois de tratada, se esticava com canas, afim de secar.
Outro facto importante foi o aparecimento do racionamento de vários produtos alimentares. O Pão foi o primeiro produto a ser racionado. Seguiu-se o Açúcar, o Arroz, o Azeite, o Bacalhau e as Massas, alem do Sabão. Cada família tinha uma caderneta do racionamento e só podia levantar as quantidades que estavam atribuídas a cada família.
Como as lavadeiras gastavam muito Sabão tinham de se recorrer a processos de mercado negro em Lisboa, no “petrolino” ou mesmo por aqui.
O Petróleo tal como a Gasolina e o Gasóleo, não estavam racionados, mas faltavam. Como não havia electricidade, a iluminação passou a ser feita com o recurso às candeias de azeite, em vez dos célebres candeeiros a petróleo.
Como matéria-prima para a produção de combustível para os camiões e automóveis, passou a ser utilizado o carvão. Um dispositivo ou sistema chamado “gasogénio” passou a ser instalado nos veículos afim de obterem alguma energia, aliás chamada de “gás pobre”, tal era a sua eficiência.
E foi assim. Depois da bomba atómica, a Guerra acabou finalmente.
Muita gente enriqueceu. O País ficou com as finanças em ordem mas aqui, tal como sempre, o povo é que suportou os custos.

Levier Duarte Catarino

__________________

Boletim de Racionamento do sr. Benjamim Esteves, de Agosto de 1943, no tempo da II Grande Guerra Mundial, que também afectou os moradores de Montemor.



(documento cedido por Irene Salvador Esteves)

09 novembro, 2007

OS VERANEANTES

Sempre houve famílias que vieram para Montemor, para aqui viver, procurando novas condições de vida e de trabalho. Muitas prosperaram e acabaram por se radicar por cá.
Outras, tidas por veraneantes, encontraram em Montemor condições de repouso ou de saúde, acabando estabelecer aqui uma segunda residência.
Os primeiros, nos anos ’30, do século passado, fixaram-se na Quinta da Baleia e na Quinta da Fonte.
Outros, construindo ou alugando casa, dedicaram-se à terra e à sua gente.
Apontam-se para já o caso de algumas famílias:

António Alves Barata (sócio da Farmácia Barral – Lisboa) que adquiriu a Quinta da Baleia. Este senhor faleceu cedo, mas a família sempre se integrou na vida da aldeia. Um dos filhos jogava futebol no Sporting Clube de Portugal e integrava de vez em quando o grupo de futebol que assim se foi organizando em Montemor.

Engº. Carlos Santos (Director da CP e Presidente da Câmara Municipal de Sintra) que arrendou a Quinta da Fonte, por volta de 1934 / 35 procurando condições para que uma das filhas do casal se pudesse restabelecer aqui de qualquer enfermidade.
Não só porque se encontrava escondida naquela Quinta a imagem de N. S. da Saúde, mas porque esposa - D. Maria Justina Grandella Santos – possuída de um elevado espírito cristão, logo iniciou em Montemor uma acção de evangelização – catequese – com o apoio do Pároco de Loures, Rev. Pe. Abílio de Carvalho.
Em consequência dessa acção, dentro de algum tempo, foram baptizados na Igreja Matriz de Loures, recentemente reaberta, as crianças e jovens do lugar que tinham ficado vários anos sem assistência religiosa; tornou-se ela própria (e as filhas) madrinha de quase toda a gente. Constrói posteriormente casa no “Cerrado da Fonte” onde continua a sua acção.

[1º grupo catequizado pela D. Maria Justina Grandella Santos, em 1935/36]


Com a ajuda do povo e de outros veraneantes também interessados na reconstrução da Capela, inicia essas obras por volta do ano de 1936, tendo já havido no ano seguinte a festa anual em honra de Nª. Sª. da Saúde, interrompida há vários anos (primeiro Domingo de Setembro como era de tradição).
Alem da acção religiosa, dispensou particular atenção às condições de saúde das crianças e jovens da aldeia. Com a colaboração do marido e o apoio da Junta de Estremadura (Lisboa), organizou a vacinação das crianças, bem como o rastreio e acompanhamento de casos de tuberculose. Todos acabaram por tomar o célebre “óleo de fígado de bacalhau”.
Para além destas actividades, organizou e manteve uma “Casa de Trabalho” onde, em complemento da catequese, eram proporcionadas lições de costura e bordados a diversas raparigas mais crescidas, isto para alem de lições de higiene, puericultura, etc.
Por alturas do ano de 1947, a senhora adoeceu com gravidade tendo sofrido, em Londres, uma delicada intervenção cirúrgica, pela mão do Prof. Egas Moniz. Deixou portanto de se deslocar a Montemor e a sua obra teve de ser interrompida.

Joaquim Maria de Mira (dono de uma empresa de transportes no Campo das Cebolas) chegou a Montemor mais tarde mas integrou-se na vida dos montemorenses e colaborou em muitas actividades, integrando de comissões de melhoramentos locais.
Podemos encontrar a sua fotografia no acto da inauguração das obras do Largo da Boa-Vontade. Construiu casa própria, no Ribeiro, a que pôs o nome de “Vivenda Miratejo”.

Jorge de Oliveira Boturão (Director da Soc. Nacional Fósforos – Lisboa), vivia em Lisboa (Paróquia do Lumiar) tendo vindo para aqui por volta do ano de 1948, dizendo-se montemorense já que nasceu aqui perto.
Com o apoio do Pároco de Loures, Rev. Pe. Antero Jacinto Marques, retoma a acção da catequese e da vida religiosa em Montemor, introduzindo imensas benfeitorias nas dependências da Capela, equipando as salas com diverso material didáctico.
Além da Catequese introduz o Apostolado da Oração, a Cruzada Eucarística das Crianças e a Liga Eucarística dos Homens.
É ainda ele quem promove na Sociedade Recreativa Beneficência Montemorense, depois de ampliadas as suas instalações, as primeiras representações de teatro a cargo de um óptimo grupo de jovens do Paço do Lumiar.





Com a colaboração da Pia Sociedade de S. Paulo, edita o Notícias de Montemor que passa a ser distribuído juntamente com o semanário “O Domingo”.

João Augusto Porto (comércio de desinfestantes) colabora com um cunhado na construção do “Casal das Arrelias” (ou dos arreliados) adquirindo posteriormente (1948 ?) o “Cerrado da Fonte”
Era muito afável e não pode deixar de se referir que toda a miudagem gostava dele.
Na altura do “Pão por Deus” dava sempre 2$50 (uma moeda de prata) a cada miúdo. Ninguém faltava lá !



Levier Duarte Catarino

A SAÚDE em MONTEMOR

Por volta dos anos ’30 do século passado, não havia em Montemor quaisquer serviços de saúde.
Os partos eram assistidos por uma curiosa – Tia Carolina “do Gaitas”.

Nas crianças pequenas, especialmente nos bebés, eram frequentes os casos de disenteria; se a criança estava de “caganeira” e tinha passado a ”fazer verde” isso podia ser “andaço”. De um modo geral, morria alguns dias depois.
A mortalidade infantil era portanto elevada. De tal forma que os funerais destas crianças eram efectuados muitas vezes sem a participação directa dos pais. Em muitos casos, as crianças eram levadas para o cemitério de Loures, sobre uma pequena padiola à cabeça de uma mulher, às vezes sem acompanhamento.

Quanto às situações de doença dos adultos, se o caso se complicava, era então chamado o experiente médico - Dr. Fernando Cunha - de Odivelas.
Os casos complicados eram remetidos para o Hospital de S. José em Lisboa.
Também havia quem recorresse à “Bruxa da Malveira” que aliás morava na Venda do Pinheiro. Levava-se uma peça de roupa do doente e ela trataria do resto. Casos de dores ósseas (braços partidos, etc.) eram porém encaminhados para o “Endireita” da Esperança, em Lisboa.

Nas situações em que o Dr. Cunha prescrevia cuidados especiais envolvendo a aplicação de injectáveis, não era chamado qualquer enfermeiro que aliás só havia em Odivelas ou em Caneças. Quem se encarregava da aplicação destas injecções, com observação dos horários ou outras recomendações, era o “mestre Augusto”, Augusto Simões Catarino (pai do autor deste texto), que além de comerciante e barbeiro, também se ocupava destes cuidados.
A sua seringa de vidro e as velhas agulhas, existem ainda.
Se o doente morria entretanto, era homem e tinha a barba crescida, ainda ia fazer a barba ao defunto. Não se sabe se cobrava algo pelo serviço.

No meio disto, como o médico só era chamado quando o doente já estava bastante mal, acontecia que quando se ouvia a característica buzina do carro “Fiat Ballila” do Dr. Cunha, muitas pessoas perguntavam quem estava para morrer.

Para tratamento de ferimentos mais ou menos ligeiros (o que era corrente no tempo das ceifas, por exemplo), era aplicado um curioso “curativo” - uma fava !
Depois de desinfectada a ferida (álcool, borato ou mercurocromo) era escolhida uma fava grande que era cozida e a que se retirava o miolo.
Depois era cortada pelo lado do olho afim de formar uma cápsula que era então aplicada no dedo; a ferida ficava preservada de qualquer infecção e acabava por sarar dentro de pouco tempo.

Porque não havia outros transportes, os funerais eram feitos a pé pela instituição de solidariedade social, - Associação Luís Pereira da Mota - de Loures que dispunha para este efeito de um carro fúnebre com decoração apropriada (tipo carroça puxada por uma mula). O velório era feito em casa do próprio defunto
Os acompanhantes, (todas as famílias se faziam representar) seguiam a pé de Montemor formando um cortejo atrás da “carreta” até ao cemitério de Loures. Concluído o funeral e bebido um copito, regressava-se a Montemor pelo Correio-Mór.
Pagava-se uma quota anual ao “homem da carreta” para se assegurarem os serviços da “Associação” quando viesse a ocorrer qualquer funeral na família.

Levier Duarte Catarino

08 novembro, 2007

OS ROUXINÓIS

Para recordar, aqui estão as fotos de algumas figuras importantes na vida de Montemor, especialmente nos anos 30 a 70 do século XX.



"Os ROUXINÓIS"
O nome inicial: Trupe Jazz “Os Rouxinois” de Montemor, mais tarde denominado
Conjunto Musical Os Rouxinóis
Fundadores:
Adelino Gregório (1918-1999)
Benjamim Esteves (1919-2001) - Trompete
Caetano Castelo
Joaquim Manuel Henriques (1924-1998) - Clarinete
Júlio Silvério Sobrinho
Vítor Viana Silvério (1920-1984) - Banjo e Vocalista
[nas fotos]

e
Joaquim Viana (Zena)
José Pedroso
José Pereira (conhecido como José Pequeno)
Teodoro Silvério (irmão de Júlio Silvério e Vítor Silvério Sobrinho)
tendo como mestre: Mário Martins (Paço do Lumiar - Lisboa)

Mais tarde entraram:
João Baptista (primo do Avelino Baptista)
Luís Afonso
António Xavier
Amadeu Almeida
Joaquim Prior (durante pouco tempo)
Avelino Baptista
Armando Viana
Vítor Esteves (filho do Benjamim Esteves e genro do Teodoro Silvério)
Augusto Duarte (genro do referido Amadeu)
[à medida que se obtenham outras fotos e notas biográficas, será feita a sua publicação]

05 novembro, 2007

A ÁGUA da BOA VONTADE

Em Montemor nunca houve água em abundância.
O chafariz (no Lugar) com uma única bica, recebia água de uma mina fechada situada em frente à porta principal da Quinta de Nossa Senhora da Conceição. Este nome foi posto há cerca de 50 anos quando a propriedade foi adquirida pelo pai do Dr. António José Xara Brasil Nogueira. Aliás sempre foi conhecida por Quinta da Fonte (anteriormente Quinta do Neves).

Havia uma segunda mina no Ribeiro com menos água e que ainda hoje se pode visitar. Os acessos não eram tão bons para a recolha de água já que se descia por uma pequena escada de pedra cavada no terreno, podendo depois encontrar-se a água que corria sobre uma calha de telhas para dentro de um pequeno poço ou tina, também de pedra. Era pouco usada.

Existia ainda uma terceira mina com bica de água corrente, situada entre o chafariz e a mina do Ribeiro. A água nascia a poucos metros dali, do outro lado da rua, mas era pouca.
O acesso era largo e tinha uns quantos degraus ou patamares largos, encontrando-se portanto uns 2 ou 3 metros abaixo do nível da rua. Embora a céu aberto, a mina estava enterrada. Podia ser utilizada pelos animais, sendo certo porem que estes contribuíam para encher o espaço de imundícies. A tina onde se ia recolhendo a água acabou por ficar coberta de lama e dejectos dos animais. Tornou-se num chafurdo completo.

Este espaço foi portanto requalificado mercê dos esforços de uma comissão de obras que conseguiu congregar para esta acção todas as vontades do lugar. O êxito desta iniciativa acabou por dar nome ao lugar (transformado em fontanário e jardim) tendo esse espaço ficado a ser conhecido por Largo da Boa Vontade.

Inauguração do Chafariz da Boa Vontade, Adelino Gregório, Joaquim Mira e o Presidente da Câmara de Loures, Dário Cannas a 1.Jan.1948

[foto cedida por Encarnação Gregório Duarte]

O Jardim durou pouco tempo e acabou por dar lugar ao actual parque de estacionamento dos autocarros da Rodoviária (na altura Empresa Arboricultora Lda., de Caneças).
A forma como estava organizada a recolha de água no chafariz do lugar era muito curiosa:
Como no Verão a água era pouca, havia as naturais bichas formadas pelas pessoas ou através das suas bilhas.
No fundo, se estava muita gente, uma pessoa arrumava a sua bilha numa fila própria (encostada à parede) e ia embora. Quando mais tarde voltava à fonte, se já não tivesse ninguém à sua frente, tinha o direito de encher a sua bilha.
É claro que, de quando em quando, havia confusão, já que outra bilha poderia ter entretanto ganho a vez.
Isto sucedia porque a fila de bilhas chegava a ser muito grande e a ordem de vez podia ser alterada. Ninguém podia garantir se determinada bilha estava em bicha há mais tempo do que outra.
Porém quando chegava alguém com gado para beber, o animal ou o rebanho, tinha sempre prioridade sobre as pessoas.
Se a tina não tinha água acumulada (o que era normal), punha-se uma selha à bica e ia sendo dado de beber a todos os animais.


Levier Duarte Catarino

02 novembro, 2007

Uma Récita em Montemor

Em 1952, o Notícias de Montemor, publicado a 27 de Abril, congratulava-se pelo facto da Sociedade Recreativa e de Beneficência Montemorense, não realizar festas na sua sede durante a Quaresma.

Por outro lado dava os parabéns à Direcção pela futura inauguração de um novo palco para exibições musicais, o que veio a acontecer numa grande récita a 18 de Maio de 1952.