31 julho, 2006

Como nasceu Montemor






MONTEMOR
A história desta aldeia passou a ser conhecida, segundo a tradição, no século XVI.
No livro “Portugal Antigo e Moderno – Diccionario” de Pinho Leal, Volume V, páginas 484 e 485, editado em 1875 aparece a seguinte descrição:

MONTE-MÓR – aldeia, Estremadura, freguesia de Loures, concelho dos Olivaes [agora Loures], comarca, distrito administrativo, patriarcado e 14 km a Norte de Lisboa.
Esta povoação situada em um alto monte, de onde lhe provêm o nome. No seu píncaro está a ermida de Nossa Senhora da Saúde.
Segundo a tradição, a origem desta capela é a seguinte:
A 15 de Outubro de 1598, terá tido início em Lisboa, propagando-se pela maior parte do reino, uma terrível peste, que durou cinco anos, matando muitas mil pessoas. [Foi no reinado de Filipe II, que tinha sido proclamado rei a 13 de Setembro de 1598].
Muita gente de Lisboa terá fugido da cidade, procurando as aldeias e particularmente as que – como esta – pela sua elevada situação, ofereciam um clima mais saudável. Para aqui vieram então algumas famílias de Lisboa, trazendo uma delas, uma imagem da Santíssima Virgem [que é a mesma que ainda se venera nesta ermida], à qual logo construíram uma pequena ermida, ou nicho, prometendo-lhe aumenta-la se a peste terminasse.

Em 1603 acabou o contágio, e não se esqueceram do seu voto: mandaram edificar logo uma bonita capela, que a devoção dos fiéis ainda ampliou depois.

Por volta de 1700, terá sido acrescentada uma boa tribuna de talha dourada. As paredes da capela-mor foram desde o seu princípio revestidas de bonitos azulejos, e em 1626, os irmãos da confraria da Senhora mandaram forrar de azulejos o corpo da capela, o que consta da inscrição dos mesmos azulejos.
Em frente da capela há um bonito alpendre com seu átrio, de onde se goza um dilatado e formoso panorama. O tecto deste alpendre está colocado sobre quatro colunas, quadradas, de mármore, tendo na arquitrave do centro esta inscrição:

ESTE ALPENDRE MANDOU FAZER
MIGUEL TOSTADO MALA A SUA
CUSTA EM O ANNO DE 1621

No interior existe um coro, púlpito e sacristia.A capela-mor chegou a ser fechada por grades de pau-santo [que já não existem]. Os povos destas terras têm muita devoção com esta imagem de Nossa Senhora da Saúde, à qual atribuem muitos milagres.
"Por cima da porta lateral, sobre a sua verga destaca-se um quadro em azulejo, encaixilhado numa tira de faiança pintada de fitas brancas entrelaçada, com olhos amarelos pontuados de azul. Por dentro deste divisa-se uma moldura de torcidos, colorida de azul e amarelo sobre fundo branco. No campo lê-se ordenadamente:"

LOUWADO SEIA OSANTISSIMO
SACRAMENTO
A PVREZA DA VIRGEN MARIA
COMSEBIDA SEN PECADO
ORIGINAL
SENDO IVIS MANOEL DA C
OSTA DESTA CONFRARIA DE
N. S. DA SAVDE MANDOV FAZER
AS DVAS PAREDES GRANDES
DASVLEIO A SVA CVSTA E DEVA
SAÕ E A DEMAISOBRA DEBAXO
DO CORO MANDRAÕ FAZER OS
MORDOMOS Q ENTÃO SERVIAM
ANO DE 1626


Existem no interior duas peças datadas: um lavatório em pedra de 1690 e um cofre, também em pedra para a recolha de esmolas, com a data de 1781.

Em Montemor, assim como em Caneças e outras aldeias saloias, até aos anos 70 do século passado, eram lavadas as roupas de muitas famílias de Lisboa, sendo transportadas pelas lavadeiras. Este transporte inicialmente era feito em galeras e camionetas de carga e mais tarde nas camionetas da Arboricultora.
Este assunto foi retratado no famoso filme português “Aldeia da Roupa Branca”.

Posteriormente a esta fundação (ou talvez repovoação) desta terra, são conhecidos poucos factos com ela relacionados. Existe muita documentação sobre a vila [agora cidade] de Loures, com escassas referências a este monte.

Consta também que a Capela de Nossa Senhora da Saúde foi ocupada após a implantação da República, tendo sido lá exibido um circo.
Supõe-se que terá sido também nessa época que se deu o desaparecimento dos azulejos no seu interior.
Em meados do século passado foi também roubada a imagem de Nossa Senhora que foi posteriormente recuperada pelas lavadeiras de Montemor, em Lisboa.
Estes diferentes episódios serão objecto de futuros textos mais detalhados.
António José Paulino
Fontes:
- “Portugal Antigo e Moderno – Diccionario” de Pinho Leal, Volume V, 1875, pág.s 484 e 485;
- "Azulejos Datados" (1ª Série) de Vergilio Correia, 2ª edição, Lisboa 1922, pág.s 10-17;
- "Povo e Religião no Termo de Loures, de Gomes, J. Pinharanda, pág.s 27-32 [A Senhora da Saúde de Montemor], Loures, 1982;
- "Notícias de Montemor", suplemento do semanário "O Domingo" - Pia Sociedade de S. Paulo, 1952-55.